sexta-feira, 14 de setembro de 2007

Deus, o Homem e a dita pós-modernidade ou 'Os 7 Pecados vol. II'

Começo este ensaio, fazendo um apanhado em resumo da dita pós-modernidade, para então, me ater aos seus temas centrais.

A emergência do pós modernismo aconteceu na década de 60, afirmando-se plenamente na de 70; e é correlata ao surgimento de uma nova ordem econômica e social: pós-industrialismo ou sociedade de consumo, a sociedade da mídia e do espetáculo, ou o capitalismo multinacional.
O estabelecimento da publicidade como ‘arte oficial do capitalismo’ (Harvey) ocorrido na década de 70 promove uma troca de influências entre a arte e as estratégias publicitárias. Também foi neste período que floresceu a indústria da herança e a cultura de museu, visando a comercialização da história e de formas culturais, tendo a classe média como público alvo.

Digo isso, pra então apontar alguns sintomas-temas da pós- modernidade:

O desaparecimento de um senso de história e a transformação do significado e da própria percepção do espaço e tempo; a celebração das ‘qualidades transitórias’ da vida moderna, com ênfase no campo da produção cultural em eventos, espetáculos, happenings e imagens da mídia. Estes apontamentos, são temas da pós modernidade, porque estão na ordem do dia, e são sintomas, porque seus desencadeamentos são perceptíveis e palpáveis.


Deus e a reserva moral

Esta experiência temporal esquizofrênica de descontinuidade, permite uma vivência muito intensa do tempo presente: perpétuo presente de isolamento e desconexão. Esta total aceitação do efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico, é herança do conceito baudelairiano de modernidade. Arrisco dizer, que herdamos do Cristianismo, o seu pensamento de que o ’valor’ e o ‘sentido’, não são inerentes a nenhuma ordem espacial, devendo sim, serem invocados. Esta herança me parece, de alguma forma conflitante com, ou necessariamente conflitante com a velha Teologia da Libertação ou a nova Teologia Social, que insistem em tirar Cristo da cruz, e colocá-lo no front da vida urbana. Que se faz uma atitude muito necessária, já que no Capitalismo, a única coisa que é universal é o mercado.
Partindo desta evidência, precisamos então, estabelecer uma ‘reserva moral’. Por quê?, porque no capitalismo, o mercado sequer pensa esta reserva, fazendo com que a pós modernidade faça do Cristianismo uma espécie de filosofia de mega-tendência, ou seja, só mais uma das possibilidades espiritulistas vigentes. Reserva moral aqui, é entendida como aquele ser-em-estado-de-democracia, que não sendo externo ao seu tempo, pelo contrário, não cessa de fazer as vezes de Estado, sem estabelecer compromissos vergonhosos; e para cristianizar ainda mais o conceito, se responsabilizando pela e diante das vítimas.

No estado atual, é conflitante as relações entre direitos humanos e capitalismo, o primeiro não nos fará abençoar o segundo; “Os direitos humanos não nos farão abençoar o capitalismo!” (Félix Guatarri, Gilles Deleuze). No capitalismo, não pára de crescer o número de homens sem direitos - a não ser o direito de mercado, sendo ele mesmo, uma mercadoria – é necessário, então, uma reserva moral que ressuscite, celebre, invoque uma espiritualidade revitalizadora e engajada como a de Luther King (Longuini).

Os novos pecados, os velhos pecados, os pecados de sempre.

Ao nos metermos neste apocalipse-estético, nos tornamos excêntricos pelo excesso (Israel Belo). Em termos clássicos, individualmente cometemos e quase perpetuamos aqueles de nossa herança, que são capitais, pois encabeçam outros. Em seu cerne mais medular, errar o alvo é pecar:
Buscar fora o que é dentro, aparência em vez da essência, preferir o artifício, esquecer do que se é, perder a naturalidade e o sentido da vida, colocar no corpo o que é do espírito, um vício no lugar de uma virtude.

O orgulho, querer parecer o que não é, no lugar da humildade, saber ser filho da terra.
A inveja, que só existe por comparação, separando, no lugar da compaixão, sentir junto.

A Ira, ficar fora de si e assim perder-se, no lugar da paciência, a compreensão da dor.

A preguiça, não pensar, não sentir, não agir, no lugar da diligência, fazer com amor.

A avareza, ignorar os meios e só ver os fins, no lugar da generosidade, fazer parte do todo.

A gula, querer engolir sem digerir, no lugar da temperança, equilibrar os temperos.

A luxúria, viver para os instintos, no lugar da castidade, ser de si mesmo (Alice Ruiz).

Em termos contemporâneos, ainda erramos pelo excesso, que claro, desequilibra. Não precisamos de mais comunicação, ao contrário temos comunicação demais. O que nos falta é a criação. O que nos faz falta é a resistência ao presente. Resistir é criar, resistir à morte, à servidão, ao intolerável, à vergonha, ao presente.

Referências:

Zucal, Silvano. Cristo na Filosofia Contemporânea. Vol.II: O Século XX. DE. Paulus.
Cocco, Giuseppe, na revista Global Brasil n.03. Ago/ Set/Out./2004. Ed. Rede Universidade Nômade.
Michelin, Simone. Em ‘O Efêmero que se Prolonga’, artigo publicado na revista Global Brasil, ed. 2002, da ed. Universidade Nômade.

Um comentário:

Marcos Vichi disse...

À igreja cabe o papel de resgatar a humanidade no indivíduo transformado em mercadoria por esta sociedade produtiva a quem só interessa o lucro, alimentado pelo orgulho, que dá mais valor à aparência do que à essência e estimula o ter em detrimento ao ser.

Um abraço,

Marcos Vichi