sábado, 10 de maio de 2008

No Caminho Com Maiakóvski

Eduardo Alves da Costa, um poeta-visionário dos anos de chumbo tupiniquim, profetizou...

Assim como a criança humildemente afaga a imagem do herói, assim me aproximo de ti, Maiakóvski.
Não importa o que me possa acontecer por andar ombro a ombro com um poeta soviético.
Lendo teus versos, aprendi a ter coragem.
Tu sabes, conheces melhor do que eu a velha história:

Na primeira noite eles se aproximam e roubam uma flor do nosso jardim.
E não dizemos nada. Na Segunda noite, já não se escondem,
pisam as flores, matam nosso cão, e não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a luz, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E já não podemos dizer nada.

Nos dias que correma ninguém é dado repousar a cabeça alheia ao terror.
Os humildes baixam a cerviz; e nós, que não temos pacto algum com os senhores do mundo,
por temor nos calamos.
No silêncio de meu quarto a ousadia me afogueia as faces e eu fantasio um levante; mas amanhã, diante do juiz, talvez meus lábios calem a verdade como um foco de germes capaz de me destruir.

Olho ao redor e o que vejo e acabo por repetir são mentiras.

Mal sabe a criança dizer mãe e a propaganda lhe destrói a consciência. A mim, quase me arrastam pela gola do paletó à porta do templo e me pedem que aguarde até que a Democracia se digne a aparecer no balcão.
Mas eu sei, porque não estou amedrontado a ponto de cegar, que ela tem uma espada a lhe espetar as costelas e o riso que nos mostra é uma tênue cortina lançada sobre os arsenais.

Vamos ao campo e não os vemos ao nosso lado, no plantio.
Mas ao tempo da colheita lá estão e acabam por nos roubar até o último grão de trigo.
Dizem-nos que de nós emana o poder mas sempre o temos contra nós.
Dizem-nos que é preciso defender nossos lares mas se nos rebelamos contra a opressão é sobre nós que marcham os soldados.

E por temor eu me calo, por temor aceito a condição de falso democrata e rotulo meus gestos com a palavra Liberdade, procurando, num sorriso, esconder minha dor diante de meus superiores.

Mas dentro de mim, com a potência de um milhão de vozes, o coração grita - MENTIRA!

Cantos Solitários

No conto ‘Luzes’, de Tchekov escrito em 1888, o herói, um engenheiro chamado Ananiev, fala de um encontro decisivo ocorrido na sua juventude, numa casa de varaneio de pedra, acima do mar, e oferece essa teoria sobre os grafites:

“Quando um homem num estado de espírito melancólico é deixado sozinho frente a frente como mar, ou com qualquer outro cenário que lhe pareça grandioso, há sempre, por alguma razão, misturada à melancolia, a convicção de ele vai viver e morrer na obscuridade e, reagindo, ele agarra um lápis, um caco de telha....e se apressa em escrever seu nome na primeira coisa ao alcance das mãos.
E é por isso, suponho, que todos os cantos convenientemente solitários, estão sempre rabiscados com lápis, cacos de telha ou gravados com canivetes.”

Este é um reflexo (efeito retardado), da sensação de eternidade que tínhamos quando estávamos com Deus naqueles dias no Jardim das Delícias.

É por isso que insistimos em colocar nosso nome nas pessoas que amamos: é porque as pessoas e as coisas são extensões de nós.
É por isso que os enamorados escrevem seus nomes nas árvores;
É por isso que colocamos nossos nomes no diminutivo ou Jr. em nossos filhos;
É por isso que chamamos a Igreja de Cristo de Corpo,
É uma maneira de eternizar aquilo que somos-queremos-ser.

Sendo assim, eu chamo o Pedro de ‘Flautista de Hammelim’’ e chamo o Samuel de ‘Samuca, o Trovador Solitário’, porque no fundo eu queria ser vocês.