segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

O Natal me mata...

Estou tecnicamente morto.
Sinto meu corpo tremer e um frio na garganta típicos de corpo degolado....isso já dura mais de dois segundos...vozes abissais ecoam em minha mente...os pobres...os poderosos...os ricos...

'NOVOS MEIOS
Rainha Elizabeth II vai transmitir tradicional mensagem de Natal no YouTube
Reuters'

'Café com o Presidente
Lula: pobres estão indo às compras neste Natal.'

'Cofre cheio
Comércio deve faturar R$ 43,2 bi neste fim de ano, no melhor resultado em 11 anos.'

...uma canção natalina ressoa no lugar de minhas lembranças de infância...droga! ...pensei que morrer fosse mais interessante...
...Anoiteceu, o sino gemeu...E a gente ficou feliz a rezarPapai noel, vê se você me dar....Eu pensei que todo mundoFosse filho de papai noel...A felicidade pra você me dar....Eu pensei que todo mundoFosse filho de papai noel...Vem assim, felicidade.
Eu pensei que fosse uma Brinacdeira de papel...Já faz tempo que eu pedi.
Mas o meu papai noel não vem.
Com certeza já morreu
Ou então, felicidade....É brinquedo não tem...

...papai-noel-pobre-frankstein-de-veludo-vermelho...impossível não travar uma luta-mental no ringue-cortex-cerebral, e receber um upper cut no coração, quando estou falando do natal que nós criamos e franksteinniamos...
...conta tia...conta aquela estória...aquela canção de ninar...
Natal é tempo de gravidez.
Gravidez de esperança pelo novo que vem em forma de menino, humano e indefeso, nascido de mulher.
E é a esse mistério tão singelo e despretensioso, mistério pelo qual o mundo é mundo e a cadeia da humanidade segue adiante por séculos e milênios que a fé cristã atribui a salvação do mundo. É nesse mistério de esperança frágil e desprotegida, exposta a todas as intempéries, que a revelação afirma que chegou a plenitude dos tempos.
O que acontece no ventre de Maria e que aconteceu, acontecia, acontecera e acontecerá nas entranhas de todas as Marias, Ednas, Joanas, Cristinas e Anas que povoaram, povoam e povoarão a terra é o atestado de que a esperança é o que move o mundo e quando parece já não haver mais nada a esperar, a convicção de que em algum lugar, em alguma parte, uma mulher grávida dará à luz um filho.
E a esperança recomeçará a brotar da aparente esterilidade que ameaça assolar e ressecar a face da terra.
O Natal, portanto, é tempo de gravidez e gestação.
Neste menino pequeno e recém-nascido ao frio e ao calor, à fome e à sede, à saciedade e ao carinho, à dor e à alegria se encarnou a Palavra que vinha germinando nos sulcos do mundo, nas veias da história, e nas entranhas maternais de todo instante, desde o começo dos tempos. Quando o Pai contraiu suas entranhas paterno-maternais para dar lugar ao que não era divino e criar o cosmos, já a esperança habitou o fundo da terra, anunciando o desejado dia em que a criação voltaria a ser semelhante ao criador do qual era imagem.
Na plenitude dos tempos, desde as entranhas da terra e da humanidade, nasceu Jesus, do ventre de Maria de Nazaré.
Não desceu do alto, dos espaços siderais em algum vôo de emergência. Brotou de baixo, do humano, da carne vulnerável e mortal.
Deus se fez carne em Jesus de Nazaré, herdando em seu peito o sangue e o pranto, as alegrias e os desejos das gerações humanas que o haviam precedido e todos os futuros e mistérios desconhecidos e desejados.
Este é o mistério que hoje celebramos.
A justiça e a paz vêm de baixo e vêm dos que estão abaixo.
Se a nossa justiça não abarcar esses que estão abaixo e à margem das benesses do progresso e da sociedade em que vivemos, será como a palha que queima e se transforma em cinza.
Olhar para baixo: esta é a diretriz que nos é dada neste Natal, assim como em todos.
Portanto, que não se abra a terra para semear minas que explodirão vidas humanas em mil pedaços.
Que não se abra tampouco a terra para enterrar os cadáveres dos justos e o pranto das viúvas e dos órfãos.
Que não se abra jamais para fazer desaparecer os torturados, plantar as sementes envenenadas da cobiça e sepultar os sonhos irrealizados.
Que se abra, sim, a terra para que brote hoje e sempre, com sabor e aroma de novo, frágil e indefesa, a epifania, a manifestação de Deus que se faz criança na carne frágil de Jesus de Nazaré.
Que se abra a terra, para que a gravidez universal da criação se torne parto infinito e constante. Que a nova criação seja parida na caridade vivida, nos gestos humildes de amor aprendidos no Deus que desce e se encarna no mais estreito e frágil da Criação da qual é Senhor.
Que a nossa humanidade, enfim, aprenda nesse Natal a abrir-se para acolher o outro que sofre, que chora, que é infeliz.
O outro faminto, sedento, cativo e nu.
Que o coração seja de carne e não de pedra neste Natal em que Deus, uma vez mais, se encarna fragilmente para ensinar que o amor é flor tão frágil quanto preciosa; tão bela quanto mais indefesa; mais ofuscantemente deslumbrante justamente quando se encontra mais ameaçada.
E que é preciso cuidá-la com carinho para que ilumine e encha de beleza o mundo tão cheio de ameaças, guerras e morte.
Mundo no qual perdem os que têm razão e ganham os que não a têm.
O Natal inverte essa equação e mostra onde está a verdadeira vitória, nos subterrâneos da história, onde se encarna a fragilidade do amor....
a morte me acena com carinho...vou apenas dizer adeus...

sábado, 1 de dezembro de 2007

Ode ao Dia das Crianças.

Eu odeio São Cosme e São Damião!
São incapazes de criar crianças à prova de balas!

Hoje eu vi uma menininha pedindo no sinal
A mesma que tinha visto dormindo no jornal,
Do carrão, recebeu uma moeda do Secretário de Educação,
que tava atrasado, com comitiva do lado
Pra inaugurar mais um Ciep, que nunca funcionou, nem funcionará.

E eu odeio São Cosme e São Damião!
São incapazes de criar crianças à prova de balas!

Não há Herói Abaixo da Linha do Equador. Nem Pecado.

O Brasil é um país sui generis.

Num esquema dominado pelo antagonismo-moral-crônico, é perversamente natural (a ênfase está no perverso ) que se dê mais valor àquilo que de fato é menos relevante para o convívio humano;
é a apologia da musa,
é a forma valendo mais que o conteúdo.

Não é de se estranhar então, que surjam
advogados-impecilhos,
juristas-injustos,
médicos-desumanos,
políticos-não-políticos,
religiosos-impiedosos,
namoradas-ciumentas,
maridos-egoístas,
Estado-privado,
assassinos-que-oram...

Mesmo assim, muitos dessas pessoas incongruentes em quem nos tornamos, arvoram-se no direito de sorrirem amarelo e estufarem o peito, quando cumprem com a ‘manutenção do belo quadro social’.
Tem gente que se vangloria de ser ético. Ora, isso é risível.
Um herói é herói porque organica/existencialmente ele é assim, a não porque seu coração é a ostentação.

As únicas criaturas que merecem ser condecoradas por fazerem o óbvio, são as crianças.
Elas merecem ser aplaudidas quando riem,
e uma medalha de honra ao mérito, quando brincam.