quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Vencer a Especialização.

Sabe quando você ouve uma música ou lê um poema, e seu coração arde e sua cabeça dói, de ciúme barato e topor porque não foi você quem pensou aquilo, e, mesmo assim aquilo passa a ser sua música? seu poema? sua cara? sua vida?seus gametas?

Sabe quando tudo faz sentido e somos extensões uns dos outros, como nas festas de crianças entre as crianças?; Bem, foi assim quando li Edgar Morin. Este fragmento abaixo, parte do lido no inverno de 2005, carrega essa sensação:


'Enquanto a cultura geral comportava a possibilidade de buscar a contextualização de toda informação ou idéia, a cultura científica e técnica, por causa de sua característica disciplinar e especializada, separa e compartimenta os saberes, tomando cada vez mais difícil a colocação destes num contexto qualquer. Além disso, até a metade do século XX, a maioria das ciências tinha por método de conhecimento a redução (do conhecimento de um todo ao conhecimento das partes que o compõem), por conceito fundamental o determinismo, isto é, a ocultação do acaso, do novo, da invenção, e a aplicação da lógica mecânica da máquina artificial aos problemas vivos, humanos e sociais.
A especialização abstrai, extrai um objeto de seu contexto e de seu conjunto, rejeita os laços e a intercomunicação do objeto com o seu meio, insere-o no compartimento da disciplina, cujas fronteiras quebram arbitrariamente a sistemicidade (a relação de uma parte com o todo) e a multidimensionalidade dos fenômenos, e conduz à abstração matemática, a qual opera uma cisão com o concreto, privilegiando tudo aquilo que é calculável e formalizável.

Assim, a economia, a ciência social matematicamente mais avançada, é também a ciência social e humanamente mais fechada, pois se abstrai das condições sociais, históricas, políticas, psicológicas, ecológicas etc, inseparáveis das atividades econômicas. Por isso, os seus experts são cada vez mais incapazes de prever e de predizer o desenvolvimento econômico, mesmo a curto prazo.
O conhecimento deve certamente utilizar a abstração, mas procurando construir-se em referência a um contexto. A compreensão de dados particulares exige a ativação da inteligência geral e a mobilização dos conhecimentos de conjunto.
Marcel Mauss dizia: "É preciso recompor o todo". Acrescentemos: é preciso mobilizar o todo. Certo, é impossível conhecer tudo do mundo ou captar todas as suas multiformes transformações. Mas, por mais aleatório e difícil que seja, o conhecimento dos problemas essenciais do mundo deve ser tentado para evitar a imbecilidade cognitiva. Ainda mais que o contexto, hoje, de todo conhecimento político, econômico, antropológico, ecológico etc, é o próprio mundo. Eis o problema universal para todo cidadão: como adquirir a possibilidade de articular e organizar as informações sobre o mundo. Em verdade, para articulá-Ias e organizá-Ias, necessita-se de uma reforma de pensamento."

sábado, 2 de fevereiro de 2008

Eclasiastes, Carnaval e Justiça. O 'Abre Alas'

Com as ferramentas em punho, quase tudo é possível. Quase tudo, por que sou otimista, e penso que o coração-honesto é o limite.
Enquanto muita gente vê o diabo em tudo, eu, como Filho da Graça que há em Jesus Cristo, me sinto impelido a ver Deus e suas mão positivas e operantes, em todas as coisas.
Não se engane, não estou falando de Universalismo; estou indo às orígens (aquele momento em que profanamos a nós mesmos)
Pode ser que essa minha ludicidade seja um disparate, mas como falo à adultos, entendemos que pode até ser um disparate sim, mas ainda lúdico. E adulto que sou, não abro mão de uma boa brincadeira.

Deus é justo, e o Livro do Eclesiastes conta disso;
Deus é justo, e os primórdios do Carnaval sambam assim; e
Deus é justo, e a Economia Mundial, esqueceu-se disso.

Toda vez que irrelevamos as letras de Coélet, ignoramos Deus, que é Justo;
Toda vez que sofismamos as manifestações folclóricas populares, ignoramos Deus, que é Justo, e
Sempre que a Economia é injusta com o Homem, denegrindo e aviltando-o, esbofeteamos Deus, que é justo. E justificador.

Eclesiastes e a justiça.
La Sainte Bible. Ed.1973. École Biblique de Jérusalem.


O problema de Coélet (aqui como sendo a mesma coisa que Eclesiastes, por enquanto), é o mesmo de Jó: o bem e o mal têm sua sanção aqui na Terra? E a resposta de Coélet, como a de Jô, é negativa, pois a experiência contradiz as soluções correntes (7, 25-8, 14).

Só que Coélet, é um ‘homem’ de boa saúde e não pergunta como Jô, pelas razões do sofrimento, e se consola gozando das modestas alegrias que a existência pode dar (3, 12-13; 8, 15; 9, 7-9); ou procura consolar-se, pois vive totalmente insatisfeito.
O mistério do Além o atormenta, sem que ele vislumbre uma solução.

Mas Coélet é um ‘homem’ de fé, embora desconcertado com o rumo que Deus dá aos assuntos humanos, diz que Deus não presta contas (3, 11.14; 7, 13); que se deve aceitar de sua mão tanto as provocações como as alegrias (7,14); que é preciso observar mandamentos e temer a Deus (5, 6; 8, 12-13)...
Continua...

Eclesiastes, Carnaval e Justiça. 'Desfile de Campeões'

Carnaval e a Justiça.
O Celso Lungaretti disse isso e muito mais em 1980.

A origem do carnaval perde-se na poeira dos tempos.
Há quem tente remontá-la ao culto agrário praticado por povos que existiram 10 mil anos antes de Cristo: homens e mulheres mascarados, com corpos pintados e cobertos de peles ou plumas, saíam em bandos e invadiam as casas, fazendo terríveis algazarras.
Outros autores lembram as festas alegres do paganismo, como a de Ísis e a do Boi Ápis, entre os egípcios, e as bacanais, lupercais e saturnais dos romanos.

A componente libidinosa do carnaval é inegável em todos os textos antigos. Sabe-se, p. ex., que o termo carnaval deriva do latim carrum novalis, designação de um tipo de carro alegórico da Grécia e Roma antigas. Dezenas de pessoas mascaradas caminhavam a seu lado e ele trazia no bojo "mulheres nuas e homens que cantavam canções impudicas".

O medonho entrudo português - Para nós interessa, sobretudo, o carnaval português, conhecido como entrudo. Até fins do século 19, o nosso carnaval teria as mesmas características do "medonho entrudo português, porco e brutal", a que se refere uma historiadora, assim descrevendo-o: "pelas ruas de Lisboa, generalizava-se uma verdadeira luta em que as armas eram os ovos de gema, ou suas cascas contendo farinha ou gesso, cartuchos de pó de goma, cabaças de cera com águas de cheiro, tremoços, tubos de vidro ou de cartão para soprar com violência, milho e feijão que se despejam aos alqueires sobre as cabeças dos transeuntes..."

A pesquisadora Eneida, em sua História do Carnaval Carioca, relaciona diversos casos para comprovar que, a exemplo do que ocorria na Roma de Suetônio, o carnaval aqui também se constituía no único período em que os escravos desfrutavam de uma certa liberdade. E conclui:

"Parece que uma das características do carnaval é dar aos escravos de qualquer época o direito de criticar e zombar de seus senhores".

Os limites da democracia, entretanto, sempre foram muito exíguos no Brasil, então houve também medidas caracteristicamente discricionárias. Em 1857, o chefe de polícia do Rio de Janeiro lançou um edital proibindo "o jogo do entrudo dentro do município. Qualquer pessoa que o jogar incorrerá na pena de 4$ a 12$ e não tendo com que satisfazer, sofrerá oito dias de cadeia, caso o seu senhor não o mande castigar no calabouço com cem açoites". Ou seja, multa para os brancos proprietários, xilindró e chicotadas para os escravos. A relatividade vem de longe...
Continua..

Eclesiastes, Carnaval e Justiça. 'Apuração'

Economia e Justiça. O Bem e o Mal do Carnaval.

O pastor e jornalista Macéias Nunes afirma: "Vale a pena perguntar, enfim, se não terá chegado a hora de fazer uma avaliação crítica sobre as vantagens e desvantagens do Carnaval, mesmo porque esta que já foi uma legítima festa popular, hoje está cada vez mais refém do dinheiro".
E continua:
"É a economia, estúpido!”

A frase famosa do folclore político americano serve para responder em parte a pergunta sobre os motivos da paixão provocada pelo Carnaval em amplas faixas da população brasileira.
Houve tempo quando se podia falar da festa como a mais pura e legítima expressão da cultura popular do país, mas hoje o que conta são os milhões de reais movimentados por ela, direta ou indiretamente.
Com os turistas, ganha a hotelaria, o comércio regular, a camelotagem e, até, a prostituição. A televisão fatura alto, aqui e no exterior. A indústria do Carnaval gera milhares de empregos e, como se sabe, emprego é palavra mágica na abertura de todas as licenças. Falar que alguma atividade gera tantos ou quantos empregos é garantia de imunidade absoluta para sua prática, por menos recomendável ou mais nociva que seja para a sociedade.

"É a economia, sem dúvida, mais do que a arte e a cultura. Contudo, é também o marketing, seja eleitoral, artístico ou moral. Existem políticos que por força do cargo são praticamente obrigados a comparecer ao local dos desfiles, mas há outros que se aproveitam para posar de figuras populares – e para ouvir de passagem um coro de merecidas vaias.

As notórias senhoras/madames/garotas/senhoritas, que se credenciam ao estrelato por se enquadrarem no chavão “modelo e atriz” há muito tomaram o lugar das passistas do morro.
E os banqueiros do jogo do bicho deixam de ser os mafiosos de sempre para se tornar os honrados cidadãos que comandam a festa, com direito a contatos oficiais e tudo. E isso sem falar no narcotráfico, cada vez mais presente nas relações com certos promotores e participantes da festa.
"E há também a elevação das estatísticas da criminalidade, drogas e homicídios no período, a explosão da imoralidade e da violência explícitas e o delírio dos carnavalescos na tentativa de recontar a história a partir de um ponto de vista em muitos casos bizarro e tendencioso.
Não é absurdo perguntar, ainda, se diante do sufoco que o povo enfrenta durante o ano inteiro vale mesmo a pena festejar durante quatro dias para depois cair de novo na real e no real.

"Vale a pena perguntar, enfim, se não terá chegado a hora de fazer uma avaliação crítica sobre as vantagens e desvantagens do Carnaval, mesmo porque esta que já foi uma legítima festa popular, hoje está cada vez mais refém do dinheiro.

Afinal, promiscuidade tem limite."
Continua...

Eclesiastes, Carnaval e Justiça. "Quarta de Cinzas"

Para encerrar a brincadeira (folia?), e apanhar a bola, os lápis-de-cores, os consoles, as máscaras, os gibis..., dar um abraço na mamãe e tomar um banho...cantarolo em ritmo de marchinha:

‘...Ele é dono da Chuva, do Sol e do Ar...
É Senhor da Alegria, da Dor, do Chorar..
Ele é dono dos Montes, do Céu e do Mar..
É Senhor das Crianças, das Preces e dos hinos..
Ele é teu e também meu, Senhor..’