terça-feira, 15 de janeiro de 2008

Deus, o Homem e o Diabo na Terra do Sol - I Tomo.

O Homem e a dita pós-modernidade


Quero começar este ludi-ensaio, fazendo um apanhado em resumo da dita pós-modernidade, para então, me ater aos seus temas centrais nevrálgicos.

A emergência do pós modernismo (seja lá o que isso signifique, hoje) aconteceu na década de 60, afirmando-se plenamente na de 70; e é correlata ao surgimento de uma nova ordem econômica e social: pós-industrialismo ou sociedade de consumo, a sociedade da mídia e do espetáculo, ou o capitalismo multinacional.

O estabelecimento da publicidade como ‘arte oficial do capitalismo’ (Harvey) ocorrido na década de 70 promove uma troca de influências entre a arte e as estratégias publicitárias. Também foi neste período que floresceu a indústria da herança e a cultura de museu, visando a comercialização da história e de formas culturais, tendo a classe média como público alvo.

Queimado ao estopim, duas chamuscas desde barril de pólvoras aceso:

O desaparecimento de um senso de história e a transformação do significado e da própria percepção do espaço e tempo;
a celebração das ‘qualidades transitórias’ da vida moderna, com ênfase no campo da produção cultural em eventos, espetáculos, happenings e imagens da mídia.
Estes apontamentos, são temas da pós modernidade, porque estão na ordem do dia, e são sintomas, porque seus desencadeamentos são perceptíveis e palpáveis.


Deus e a reserva moral
Esta experiência temporal esquizofrênica de descontinuidade, permite uma vivência muito intensa do tempo presente:
perpétuo presente de isolamento e desconexão. Esta total aceitação do efêmero, do fragmentário, do descontínuo e do caótico, é herança do conceito baudelairiano de modernidade. Arrisco dizer, que herdamos do Cristianismo, o seu pensamento de que o ’valor’ e o ‘sentido’, não são inerentes a nenhuma ordem espacial, devendo sim, serem invocados. Esta herança me parece, de alguma forma conflitante com, ou necessariamente conflitante com a velha Teologia da Libertação ou a nova Teologia Social, que insistem em tirar Cristo da cruz, e colocá-lo no front da vida urbana. Que se faz uma atitude muito necessária, já que no Capitalismo, a única coisa que é universal é o mercado.

Partindo desta evidência, precisamos então, estabelecer uma ‘reserva moral’.
Porquê?.
Por que no capitalismo, o mercado sequer pensa esta reserva, fazendo com que a pós modernidade faça do Cristianismo uma espécie de filosofia de mega-tendência, ou seja, só mais uma das possibilidades espiritualistas vigentes.
Reserva moral aqui, é entendida como aquele ser-em-estado-de-democracia, que não sendo externo ao seu tempo, pelo contrário, não cessa de fazer as vezes de Estado, sem estabelecer compromissos vergonhosos; e para Cristianizar ainda mais o conceito, se responsabilizando pela e diante das vítimas.

No estado atual, são conflitantes as relações entre direitos humanos e capitalismo, o primeiro não nos fará abençoar o segundo; “Os direitos humanos não nos farão abençoar o capitalismo!” (Félix Guatarri, Gilles Deleuze).
No capitalismo, não pára de crescer o número de homens sem direitos - a não ser o direito de mercado, sendo ele mesmo, uma mercadoria – é necessário, então, uma reserva moral que ressuscite, celebre, invoque uma espiritualidade revitalizadora e engajada como a de Luther King (Longuini)...

3 comentários:

Vinicius disse...

Cadu,

esse post tá excelente! (a definição de publicidade é ótima)

mas acho que boiei legal na citação que vc faz do Delleuze com o Guatarri.

Queria que vc me explicasse melhor qual é exatamente, a relação que esses dois estão fazendo, ou desfazendo, entre os direitos humanos e o capitalismo.

abcs!

Marcos Vichi disse...

Olá Cadu!

Seu texto é um protesto contra a superficialidade que tomou conta da sociedade e, conseqüentemente, invadiu a igreja evangélica. Ter aparência de espiritualidade vale mais do que possuir compromisso com o amor e com a ética cristã. A publicidade fabrica homens santos que são idolatrados pelo mercado gospel que vive de produzir espetáculos. Os “crentes” viraram mercado e mercadoria e estão enriquecendo os espertos que identificaram esta tendência.

Precisamos resgatar a profundidade do pensamento cristão e anunciar a quem quiser ouvir, que a vida é muito mais do que este “efêmero, fragmentário, descontínuo e caótico”, cenário “bigbrotheriano” que nos é apresentado como a única opção válida para a vida.

Continue protestando!

Um abraço,

Marcos Vichi

Unknown disse...

Primo, gostei do seu texto.
Sinto falta de uma continuidade desta abordagem. Ainda há muito a ser falado aqui. Desenvolva mais essa idéia, isso pode se transformar num artigo legal.

Um dos livros + simples e objetivos q já li a respeito é o do próprio Israel:O olhar da incerteza. Ele faz uma síntese dos valores desta pós-modernidade que tenho usado em muitas palestras nos ultimos 4 anos.

Também te recomendo o blog e portal do Claudio Carvalhaes que está linkado lá no meu. Ele é um teólogo especializado em liturgia e Artes e em estudos sobre pós modernidade. Escreveu um livro chamado: Transgressões, performance e arte.

Fiz uma resenha do livro dele publicada na Margens, revista de Teologia e Pós-modernidade da UMESP:
Minha resenha está publicada neste volume
Margens (ABEP), v. 3, p. 192-201, 2006.
e o link da revista é:
www.margens.org.br
Beijim!