É assim que tem sido referenciado o episódio acontecido na Cidade ex-anônima de Amstetten, uma cidade minúscula de 23 mil habitantes, que agora ficou famosa com a familia de um aposentado de 73 anos, segundo os médicos uma bomba de testosterona, que gerou sete filhos com a própria filha, que viveram trancados no seu porão durante 24 anos. Aarrrggg!
Bicho, estou relendo “A Divina Comédia” de Dante, por influência do cd ‘Dante XXI’ da Banda Cosmo-Mineira, Sepultura. Me parece que, o espírito humano mantém uma constância de insanidade e maldade grotescos.
Dois dos sete filhos que a austríaca Elisabeth Fritzl teve com o pai ao longo dos 24 anos em que esteve mantida presa num porão se impressionaram ao ver o mundo do lado de fora pela primeira vez.
Partindo daí cara, Platão não sai mais da minha cabeça:
No famoso ‘Mito da Caverna’, narrado no livro VII de A República, a maioria da humanidade, dominada pela ignorância, viveria como prisioneira acorrentada no interior de uma caverna escura, condenada a tomar como verdadeiras as fantasmagóricas sombras projetadas nas paredes à sua frente.
Os poucos que conseguem se libertar percebem o engodo e são capazes de alcançar as luzes do conhecimento e da ciência. Foi o que aconteceu há dois anos, quando a Áustria havia ficado chocada com a história da adolescente Natalia Kampusch que passou oito anos presa num porão perto de Viena, até que conseguiu fugir. O seqüestrador se matou. Talvez ela tenha encontrado as luzes do conhecimento, da ciência e, tomara, redenção.
Metáfora do esforço persistente para superar o mundo das aparências e do imediato, ao mesmo tempo em que critica a condição humana, é esse o percurso posto em questão pela cultura pós-moderna, ao propor-nos uma série de ‘des’: des-referenciação do Real, des-estetização da Arte, desconstrução da Filosofia, desmaterialização da Economia...e principalmente, Despolitização da Sociedade e des-substancialização do Sujeito.
Des-substancialização do Sujeito, é o que rola atualmente em Amstetten, e Amestetten é o nosso alter-ego agora:
‘A história de Amstetten precisa ser reescrita porque o porão onde viveu Elisabeth Fritzl e seus três filhos será agora a maior atração turística’ - disse um porta-voz da prefeitura.
- AAAAHHHHHH!!!!!! SOCORRO!!!!!!!!!
- Dante, Saramago (Ensaio sobre a Cegueira) e Platão me soam agora como um upper no estômago! Sou um sparring de Rinha de Galo!
Essas crianças saem de uma Vida na Caverna Platônica pra entrar na Vida da Caverna Pós-Moderna: “Dizer vida na caverna pós-moderna equivale a dizer vida nas sociedades do capitalismo avançado, apontando para a própria forma da crise de condição humana na época em que estamos vivendo. É sinônimo de uma cegueira muito profunda, pessoal e coletiva, mostrando como são frágeis os limites que separam Civilização e Barbárie.”
Talvez estejamos diante de uma Profana Comédia;
Talvez essa véspera de feriado chuvosa esteja me deixando melancólico,
Porém, me esforço para alcançar um resquício de otimismo e esperança dantescos, que me faz imaginar um Virgílio nos reanimando, nos fazendo passar pelo Inferno e Purgatório.
E então, Beatriz nos conduzirá ao Paraíso.
Tomara.
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Um comentário:
A que ponto chegou a cultura individualista deste tempo! As pessoas se distanciaram tanto, que mesmo sendo vizinhas, não conseguem mais ver o outro. O conceito de intimidade criou uma terra de ninguém, onde tudo é permitido, desde que não seja descoberto.
Precisamos repensar os rumos de nossa sociedade para evitar que se repitam casos como os de João Hélio, Isabela Nardoni, Natascha Kampusch ou Elisabeth Fritzl. As duas últimas não morreram, mas será que viver aprisionada num porão pode ser chamado realmente de vida?
Um abraço,
Marcos Vichi
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