sexta-feira, 16 de novembro de 2007

FHC - O Fim do Homem Cordial.Vol.II: Complexos de Poliana e do Alemão

...a Liga da Justiça Beatnik estava completa. Saímos tagarelando pelas ruas da Tijuca expondo todas nossas verves políticas, amorosas, místicas e poéticas...”varamos as ruas juntos absorvendo tudo aquilo com aquele jeito intrépido de recomeços, e que mais tarde se tornariam melancólicos, perceptivos e vazios. Mas dançávamos pelas ruas como piões frenéticos, eu me arrastava na mesma direção como tinha feito a minha vida toda, sempre atrás de pessoas que me interessavam, pois para mim, pessoas mesmo são esses caras, que estão loucos para viver, loucos para serem redentores rendidos, que querem salvar o mundo todo ao mesmo tempo agora, estão loucos para falar, nunca bocejam e jamais dizem chavões, mas queimam, queimam, queimam como fabulosos fogos de artifício explodindo feito constelações em cujo centro fervilhante – pop! - pode-se ver um brilho azul intenso...”. Chegamos lá em casa e recobramos nossa prosa-provocativa com biscoitos água e sal com gergelim, e capuccino mentolado. Beto foi o primeiro a dormir, e isso rapidamente se percebeu pela falta de expressões geniais, que de repente faltam à conversa. É dele, expressões como ‘você é uma garota extremamente-mais-ou-menos’ e ‘têm mulheres que são compradoras compulsivas, mas João é comprador compulsório’. Fiquei atônito por saber que Orfeu ronca.

Eu estava só o pó da rabióla, mas mesmo assim Pedro capotou primeiro que eu. Suas últimas palavras foi algo em torno de Reforma Agrária. Pedro é uma das personagens mais 'plural’ do meu multiverso imaginário: ele pode ser o trovador encantador que salva a cidade das ratazanas, pode ser o chapeleiro maluco enigmático que vigia e orienta Alice, mas pode também ser o primeiro senador saído da UNE que milita exclusivamente por causas populares, tanto quanto um acadêmico pós doutor que dá aula gratuita de Filosofia em comunidades ribeirinhas, quando não está em wall street prestando consultoria para Rockfeller’s. Dorme com mesma facilidade e intensidade com que fala.

Fui pro meu quarto e me entreguei à escuridão e vasto pensamento e emoções imperfeitas do sono.

Sábado começou muito estranho. Uma mistura de sono, afazeres inacabados e ansiedade incomodavam meus gametas. Pastor Rodney aportou no prédio às 10h. Seguimos para o famigerado Complexo do Alemão, com o programa do dia que seria de ensaiarmos, almoçar e às 5h da tarde nos dirigir, ou sermos dirigidos, para São Gonçalo onde participaríamos do Congresso de Jovens da Primeira Igreja Batista do Neves.
O ensaio foi uma belezura. A Igreja Batista do Cordeiro fica na rua Canitá, pra quem não associa o nome à pessoa, é a porta por onde se entra ao baile da quadra da Canitá, local que normalmente é dominado pelo grave em decibéis ensurdecedores da Furacão 2000, é também um recanto bucólico onde Marisa Montes apresentou seu show do seu último disco (que é duplo), 'Infinito Particular’ e ‘Universo ao meu redor’. A rua Canitá é ainda caminho de acesso para o micro-ondas do jornalista Tim Lopes, e também é por ali que fica a contenção (duas pedras quadradas de tamanhos faraônicos) do caveirão - o bólido infernal da Guarda Nacional.

Ah! o ensaio. Bem, ensaio foi uma belezura. A banda compunha-se de baixo, batera e percussa, teclado, guitarra e vocais, vários vocais. Dez vocais. Eram Rodney e Guthemberg nas vozes de homens e oito mulheres nas vozes de...mulheres. Essas garotas, são uma espécie de Jovem Guarda do Complexo; preservam em seu canto toda uma integridade e honra; são jovens lindas que o poder paralelo insiste, mas não consegue tirá-las do aconchego do evangelho redentor de Jesus Cristo. Definitivamente, não há vida social possível sem o senso de esperança e dignidade que o Cristianismo imprime em nossos corações e mentes. Pergunte pras Garotas Cantoras da Igreja Batista do Cordeiro.

Guthemberg e Rodney, são casos à parte. O pr. Rodney é provavelmente o cara mais carismático (no melhor bom sentido da palavra) da América Latina. Cinco minutos com ele é o suficiente para querer levá-lo consigo e ser seu amigo para o resto da vida; a fala prosaica, o caráter ilibado, o coração do tamanho de Deus, fazem dele ‘O Homem Providencial’, ali no Complexo. Pr. Guthie traz de volta uma expressão da minha infância, ele é o ‘boa praça’; combina malemolência carioca com coração piedoso. Tenho a impressão de que ele seja um ‘Robin Hood às avessas’, que nos faz lembrar que na fraqueza somos fortes, na pobreza somos ricos, por tudo que Cristo fez por nós...CONTINUA

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

FHC - O Fim do Homem Cordial

Há algum tempo, havia eu, decretado o Fim do Homem Cordial. Pretendia com isso, endurecer sem perder a ternura, minha super-boa-vontade com algumas personagens do imaginário coletivo do multiverso carioca. Não sou pessimista, chego mesmo a ter uma espécie de postura Poliana, mas ser acintosamente abordado por esses facínoras, tem me tirado a paz...os facínoras os quais me refiro são, antes figuras simpáticas e emblemáticas, agora esses flanelinhas malandrões, taxistas escorchadores, policiais arregueiros, doninhas punguistas..., só para ilustrar: dias esses fui ao teatro. E fui também‘intimado’ na porta do Ginástico, por um flanelinha-cadeirante-com-colete-falso-da-prefeitura, que me obrigou a dár-lhe R$5,00 para tomar conta do meu carro (que tem seguro, e que ele não conseguiria nem tentaria de modo algum, impedir furto ou arrombamento, pelos motivos óbvios: não é ninja, nem estaria ali por perto caso o fosse). Eu, poliana até os ossos, fiquei argumentando uma maneira com que o negócio fosse interessante para os dois, mas perdi tempo. Ele imaginava que iríamos para alguma Boite ali por perto, o que lhe outorgava o direito de estar ‘cobrando’ aquele valor ‘na moral e honestamente’, que era a quantia cobrada por uma cerveja na tal Boite. Pensei em explicar para o meu algoz a situação de vítima em que nos metemos - eu e ele – ao entregar nosso país nas mãos dos executivos viciados na santíssima-trindade-deste-século: dinheiro, autoridade e poder, e que por isso, somos roubados, assassinados no corpo e na esperança, tendo como vendido chãos sob pés que ainda nem nasceram. Mas alguma coisa no meu subconsciente me dizia que aquele cidadão estava determinado a me levar os R$5.00, tenha ele me prestado algum serviço, ou não.
É por essas e outras que o filme do Daniel Lisboa ilustra e retrata o que quero dizer no título desta crônica.
Trata-se de “O Fim do Homem Cordial” (FHC), principal vencedor do Festival do Cinco Minutos, patrocinado pelo DIMAS (da Fundação Cultural do Estado da Bahia). O vídeo, por mostrar uma situação inusitada, segundo se fala, foi fator determinante de abalos sísmicos na estrutura administrativa do setor de audiovisual desse órgão governamental. Porque o júri – formado por pessoas de diversos estados e que talvez não conhecessem as idiossincrasias da política baiana – premiou como melhor vídeo justamente um que ataca de frente ACM-Corleone – no dizer do jornalista Hélio Fernandes – e, ainda por cima, a sua rede de comunicação, cuja ponta de lança é a Tv Bahia e o seu indefectível telejornalismo, à frente o BaTv.
A sigla FHC sempre me traz más recordações– seja pela lembrança do energúmeno que doou o Brasil, vendendo boa parte de nosso patrimônio –; seja pela Nova Ordem de Q(c)uartel Nacional instaurada no Rio de Janeiro, que achincalha as pessoas de bem de todas as Comunidades do Rio de Janeiro, sejam elas periféricas ou zona-sulistas, tendo como exemplo da primeira, algumas áreas do Complexo do Alemão; seja ainda o exemplo supracitado. Em todos esses casos, no filme , numa saída de sábado à noite...estão presentes o mesmo pano-de-fundo, quer dizer, de chumbo:
A demonstração vulgar de poder, inspirada na onda de imagens divulgadas por grupos terroristas, sejam os dos atentados de 11 de setembro, sejam da Ditadura em Miammar, seja do Estado-de-Sítio do Rio de Janeiro, ou ainda das novelas instigadoras do consumismo desenfreado. “Qualquer pessoa, que tenha acompanhado os noticiários televisivos dos últimos três anos, pode perceber uma serie de imagens de grupos terroristas, com reféns, filmadas e divulgadas pelos próprios. Essas imagens são diferentes de todo o material exibido pelas emissoras de noticias. Essa configuração de imagem é dirigida pelos próprios terroristas. Um novo elemento audiovisual, não cordial, é incorporado e cria uma mancha na programação normal. É a estética do terror, da fome, do anti-cordial, da intolerância, da violência e da injustiça”. O fim do homem cordial assola o Rio de Janeiro.

Novos paradigmas:

Eu sofro de Complexo de Poliana, o que me leva a ver o lado bom das coisas. E também sofro de Complexo do Alemão, o que me leva a viver o lado bom das coisas.

Sábado último, fui convidado por dois amigos pastores batistas, a me ajuntar a eles para tocar (ministrar louvor e adoração), do outro lado da ponte Rio-Niterói, mais especificamente em PIB Neves, São Gonçalo. Esses jovens pastores são da Igreja Batista do Cordeiro, no Complexo do Alemão. Atendi mais que prontamente, pois passar momentos com essa comunidade, é pra mim, experiência edificante.
Desde a sexta-feira que antecedia o evento, as coisas já se pronunciavam promissoras. Fui com o Beto-amigo-próximo-como-irmão num desses ‘podrão’ comer churrasquinho de filé-miau. Conversávamos sobre essas coisas que se conversa numa sexta à noite, futebol, teologia, filosofia, pagmáticas, futuros, passados, expectativas de ministérios, mulheres, amigos, irmãos, heróis, necessidades materiais, espirituais, orgânicas...na tv começava um programa de entrevistas em que apareceu o Arnaldo Jabour, no EXATO momento em que falávamos de Antônio Gramsci, e eu usava o Jabour como exemplo de um intelectual orgânico...até que chegou para compor conosco mais um desses caras fantásticos que Deus coloca em nosso caminho, era o Pedro’flautista de hemelim’, sempre com um pensamento filosófico na ponta da língua e um senso de justiça aguçadíssimo, na porta do coração....CONTINUA

sábado, 3 de novembro de 2007

Capitais Intangíveis - vol. II

O evento organizado no BNDES sobre Capitais Intangíveis superou minhas expectativas, cheguei ao conhecimento do evento pesquisando transdisciplinaridade e pensamento complexo, e na tentativa de obseravr o comportamento da Economia à essas faculdades, me vi observador da história. Cheguei em cima do laço, então minha confirmação pro seminário só me chegou no domingo de noitão, o que me impediu de participar já na segunda-feira. Eis minhas subimpressões*:
Muitas pessoas participaram (mais de 400 pessoas passaram pelo evento nos dois dias),dessas, os participantes-palestrantes apresentaram sensibilidade e pragmática política do conteúdo ali debatido.
Só pude ir no segundo dia (terça-feira). As falas de Luiz Carlos Prestes Filho, sobre a Economia do Carnaval; de André Urani, sobre o futuro das cidades (Rio e São Paulo); e de Helena Lastres sobre as redes e a produção do conhecimento, me leveram aos conceitos de transdisciplinaridade e capitalismo cognitivo, que permeiam a cena contemporâ política-social-urbana-latino. Os recortes trazidos - Carnaval do Rio de Janeiro, São Paulo Fashion Week e APL da Seresta de Conservatória, indicam que não se trata de efemérides, mas de recortes intangíveis, e claro, observáveis e palpáveis em seus benefícios monetário$.
A economista Lidia Goldenstein reforçou a necessidade de buscarmos novos caminhos (eu diria observar outros desdobramentos) para nosso desenvolvimento sócio-econômico, colocando os óculos de Indústrias Criativas; entendidas aqui como as relacionadas com a Indústria Cultural, mas Tecnologia da Informação, biotecnologia, telecomunicações e novas mídias, design, ... Esta é a indústria que tem a capacidade de trazer o novo e impulsionar o velho para mudar,( é o Gadamer revisitado por causa do Prigogine) como está acontecendo com a Inglaterra/Europa. Graça Cabral, da São Paulo Fashion Week exemplificou as idéias de Lídia, demonstrando a impedância deste evento na indústria textil/fabril.


"No Brasil temos procurado a chave do desenvolvimento econômico e social em torno dos mesmos postes, sem perceber que eles não tem nem mais luz... 10 entre 10 governadores do Estado do Rio de Janeiro anunciam como uma das prioridades número um de seus governos o desenvolvimento da indústria naval. De fato, a indústria naval foi, felizmente, reativada no Rio de Janeiro. E qual foi seu impacto na economia do Estado em termos de emprego e renda? Muito pequeno, e de qualquer forma, é mais de 100 vezes MENOR que o impacto da Indústria da Cultura!!!! E isto apesar da luz dos incentivos fiscais e benesses do Estado só beneficiar a indústria naval". Marcos Cavalcanti, sampleando os mesários.


O recado do evento foi dado: os desdobramentos do desenvolvimento sócio-econômico estão nas rédeas do capital cognitivo, portanto intangível. Os que têm óculos para ver, vejam.



*Obs.:Essas impressões são sub-impressões das impressões de Marcos Cavalcanti, que tem um blog interessantíssimo: http://oglobo.globo.com/blogs/inteligenciaempresarial/.

CONTINUA...OU NÃO.